UV Podcast

Nessa repercussão Paulo Schor aborda um artigo produzido na Universidade Leiden, na Holanda, onde são expostos quatro pilares importantes para a inovação, que são educação e desenvolvimento de capital humano, desenvolvimento tecnológico, pesquisa, transferência de conhecimento e comercialização, terceiro ponto é empreendedorismo e apoio ao desenvolvimento empresarial e por último a regionalização. A expectativa é que com esses quatros pilares o Brasil consiga um melhor direcionamento sobre onde estamos e como vamos chegar onde é necessário para obter um master para uma próxima receita médica.

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Nessa repercussão Paulo Schor aborda um artigo produzido na Universidade Leiden, na Holanda, onde são expostos quatro pilares importantes para a inovação, que são educação e desenvolvimento de capital humano, desenvolvimento tecnológico, pesquisa, transferência de conhecimento e comercialização, terceiro ponto é empreendedorismo e apoio ao desenvolvimento empresarial e por último a regionalização. A expectativa é que com esses quatros pilares o Brasil consiga um melhor direcionamento sobre onde estamos e como vamos chegar onde é necessário para obter um master para uma próxima receita médica.  

What is UV Podcast?

A Universo Visual fala sobre a oftalmologia e todas as suas subespecialidades, trazendo novidades e avanços científicos de maneira atraente e dinâmica. O podcast é uma extensão da Revista Universo Visual que busca informações inovadoras e de qualidade, oferecendo ao exigente público leitor um panorama atualizado sobre o que acontece no mundo da oftalmologia.

Repercussão do Podcast RX com a médica Martha Penna, vice-presidente de inovação do laboratório Eurofarma

Na repercussão da entrevista com Martha Penna no Podcast Rx - Por dentro da sua próxima receita médica!, o oftalmologista Paulo Schor abordou artigo produzido na Universidade de Leiden, na Holanda, em que são expostos os quatro pilares importantes para a inovação, que são a educação e desenvolvimento de capital humano; desenvolvimento tecnológico, pesquisa, transferência de conhecimento e comercialização; empreendedorismo e apoio ao desenvolvimento de empresas; e regionalização. A expectativa é que com esses quatro pilares, o Brasil consiga um melhor direcionamento para se chegar na próxima receita médica.

Durante a conversa com Martha, que é vice-presidente de inovação do laboratório Eurofarma, Schor lembrou que foi discutida a trajetória da empresa, desde seu início, em 1970, quando assumiu um laboratório pequeno chamado Carlo Erba, produtor de poucas formulações, passando por uma empresa que fazia cópias de alta qualidade de medicamentos, também genéricos, até os dias atuais na qual procura sempre inovar, através de pesquisa e de desafios tecnológicos. “A empresa busca produzir e estimular o consumo de novas drogas, baseadas em novas moléculas”, salienta o especialista.

O médico diz que o crescimento da empresa dependeu de um investimento maciço e um direcionamento central para inovação. “Inovação não é algo que se consegue fazer aos poucos e sem uma diretriz mais global, todo mundo remando para o mesmo lado. E é isso que eu quero discutir nessa repercussão, o tema inovação, que é o que leva à próxima receita médica, o que vamos consumir, alguma coisa que seja diferente, eventualmente, do que a gente já consome. Inovação é uso, não é novidade, já falei isso algumas vezes, mas acho que vale a pena repetir”, reflete, salientando que se vê muito do cenário de inovação na academia, com um movimento importante dentro das universidades brasileiras e mundiais também.

O oftalmologista comenta que esteve em algumas universidades da Europa e Estados Unidos, em que procurou conhecer como funciona o sistema deles, com volumes maiores de recursos e de produções do que existe no Brasil. “Abordamos um pouco disso na conversa com o Otávio Cintra, da GSK, na qual ele falava que a produção na Bélgica era enorme, pela qualidade de capital intelectual que tinha naquele país e também o investimento e toda a legislação preparada para que isso acontecesse”, relembra, apontando que o nosso país tem hoje uma legislação ultramoderna em relação ao desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, sociais ou em políticas públicas,

Segundo Schor, o Brasil tem um marco legal da ciência, tecnologia e inovação que permite coisas que até então não eram permitidas. “Por exemplo, as universidades podem ser sócias de empresas, universidades públicas, o que até pouco tempo achávamos completamente inconcebível. E mais, agentes regulatórios, como a Advocacia-Geral da União (AGU) e Controladoria-Geral da União (CGU), têm participado ativamente da implementação desse marco legal de ciência, tecnologia e inovação”, destaca. Ele revela que esses órgãos regulatórios, que teoricamente poderiam punir, são hoje grandes estimuladores da inovação no país e as universidades se sentem relativamente confortáveis para fazer isso, apesar de que demanda uma mudança importante da cultura acadêmica.

Mas além do marco legal da ciência, tecnologia e inovação, o médico observa que existe também o marco legal das startups. “Essa é uma outra questão importante, e também é um jeito de produzir novidade, inovação, novas moléculas, novas drogas, novas prescrições, e que faz com que essas empresas consigam vender sua produção para agentes públicos. Por exemplo, uma prefeitura, um Governo do Estado ou o Governo Federal podem fazer uma encomenda tecnológica para uma empresa nascente que teve uma ideia ou tem uma patente ou fez um desenvolvimento a partir de uma tese de doutorado e fará disso algo que seja comercializável”, explica, ressaltando que também existem diversas fases para que isso aconteça e na biotecnologia é mais difícil ainda, porém hoje existem mecanismos e trilhas muito pavimentadas e relativamente confortáveis para que os empreendedores consigam chegar ao lugar almejado.

“Eu li recentemente um relatório importante da comunidade europeia, que fala bastante sobre os caminhos que a inovação percorre ou deveria percorrer no sistema europeu, que se chama A Regional Innovation Impact Assessment Framework for Universities, o qual propõe o modo de avaliar, levando em consideração as especificidades regionais, como poderíamos distribuir recursos para pesquisas aplicadas serem feitas nas universidades”, relata o médico, enfatizando que no Brasil isso já é feito, já existe pesquisa aplicada sendo direcionada, por exemplo, por agências de fomento, como a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). “Há pesquisas que são orientadas ao público, não necessariamente que são frutos de laboratórios pura e simplesmente, mas que têm alguma conexão com a demanda social ou industrial”, acrescenta.

Ele diz que isso não é a regra nas universidades e também não acredita que deva ser, uma vez que impede a criatividade dos grupos de pesquisa se tudo for encomendado. “Provavelmente uma mescla das duas coisas é o melhor dos mundos, algo que vem de geração ‘espontânea’ dos grupos de pesquisa, como curiosidade e avanço do conhecimento, e a aplicação disso baseada em demandas reais que temos do meio externo”, avalia, esclarecendo que quem produziu esse documento foi um grupo da Universidade de Leiden, na Holanda, que está no site da Comissão Europeia (European Commission). “Nesse paper, os autores começam falando exatamente que inovação é algo que tem que ser estimulada com um financiamento de extrapesquisa, não adianta tirar dinheiro da pesquisa para colocar em inovação, tem que ser um outro dinheiro, porque sem pesquisa não há inovação” argumenta.

Mas, além disso, ele aponta que os projetos de inovação deveriam ser multidisciplinares, uma vez que é muito difícil imaginar alguma coisa indo ao mercado vindo somente da cabeça de pouquíssimas pessoas com a mesma formação disciplinar. “E para que os projetos sejam multidisciplinares, provavelmente não irão conseguir sair de um laboratório único, e o esquema de financiamentos de laboratórios no Brasil ainda não necessariamente é feito por dinheiro que vem para uma pesquisa específica, e quanto mais específica for a pesquisa, maior é a chance de se conseguir financiamento”, revela o médico.

Ele enfatiza que isso é um contrassenso em relação à inovação, pois não se consegue uma multidisciplinaridade, um foco mais amplo, se o dinheiro for para um único laboratório. “Dinheiro indo para um laboratório, principalmente para um pesquisador, é muito adequado para se direcionar pesquisa básica profunda, provavelmente é o melhor modelo para se estimular a pesquisa em grupos já consolidados que conseguem competir entre si”, afirma. Por outro lado, ele diz que para se fazer alguma mudança de mentalidade e fazer com que grupos colaborem, com que saberes se complementem, não dá para ter um financiamento direcionado, precisa ser um financiamento institucional.

Schor comenta que o artigo fala bastante disso, de financiamentos institucionais os quais deveriam ser mais amplos para que a encomenda consiga ser mais complexa, completa e com base no que é desejável de saída. “E aí vai um pouco do mote que eu pretendi e pretendo dar nessa repercussão que é: o que nós queremos que seja nossa próxima prescrição? O que a gente acha como sociedade que é importante tratar? Casos raros de câncer terminal que não têm tratamento nenhum ainda ou casos mais frequentes de doenças infecciosas que já têm tratamento, mas que o acesso é muito pobre?”, questiona, dizendo que provavelmente a resposta é que as duas coisas são importantes, mas que é preciso em alguns momentos identificar um foco e ser bastante claro e preciso no que se está identificando.

Na opinião do especialista, fazer tudo ao mesmo tempo sem planejamento é algo mais complicado, trabalhoso e, possivelmente, menos produtivo, e esse é o grande dilema que o mundo todo sofre. “Por isso eu volto a esse artigo da Holanda, da Comissão Europeia, que acaba pontuando quatro maiores categorias ou subgrupos que dizem respeito às condições de inovação de um certo local e como escolhemos investir em uma ou em outra instituição”, declara, esclarecendo que o primeiro pilar é a educação e desenvolvimento de capital humano. “Sem dúvida, precisamos ter gente que pensa, é preciso formar pessoas, nesse caso, que tenham ligação com os negócios regionais; de preferência colocar nas dissertações de mestrado e doutorado gente da sociedade, porque aí já se começa a transferir mais o conhecimento e, eventualmente, chegar mais perto da inovação”, observa.

O Segundo tópico é o desenvolvimento tecnológico, pesquisa, transferência e comercialização. “Mais complicado um pouco, porque aqui precisamos ter a capacitação, apesar de já termos os marcos legais, mas precisamos ter gente que consiga fazer transferência, conversar com a indústria, fazer colaboração regional e mobilidade entre os setores. Nada disso temos muito firme ainda no Brasil, está bem consolidado em outros países, mas aqui, menos”, analisa. E o terceiro tópico, conforme explica o oftalmologista, é o empreendedorismo e suporte para o desenvolvimento de empresas.

“E aí entramos na história de aceleradoras, de spin-offs, de venture capital, ou dinheiro, que é de fundo de venture, para investir em alto risco, parques tecnológicos, que a gente começa a ter também. Mas aqui temos uma realidade relativamente dispersa, que tem que ser utilizada na sua potencialidade, entretanto, a meu ver, ela tem que ser olhada de um jeito sistêmico, um pouco mais denso, para que consigamos traçar rumos mais específicos”, pontua, citando o quarto ponto, e que talvez responda como traçar os rumos específicos, que é a regionalização. “A regionalização é muitíssimo interessante num país do tamanho do Brasil”, analisa.

Para o médico, é um absurdo que potências, como por exemplo São Carlos, não sejam reconhecidas. “Elas até são, mas poderiam ser muito mais reconhecidas como uma potência no desenvolvimento da física ótica”, afirma. Ele enfatiza que há inúmeras empresas na área de oftalmologia que nasceram em São Carlos e outras estão nascendo lá. “É uma bobagem não aproveitar o polo de Ribeirão Preto como polo de biotecnologia, assim como da Escola Paulista de Medicina ou da própria Faculdade de Medicina da USP”, observa, informando que existem várias potências regionais, “Na agricultura isso é claro, mas vamos tentar ampliar isso regionalmente, verificar o que no Estado de São Paulo, no Brasil inteiro, é potencialmente florescente naquela região”, complementa.

Para o especialista, talvez com esses quatro pilares se consiga fazer um direcionamento do que já se está fazendo, do que é necessário ser feito e ter um master plan para chegar na próxima receita médica que se deseja. “Que tenhamos escolhido e que não tenha sido escolhido para nós e que depois a gente acabe tendo que gastar mais dinheiro em marketing para convencer as pessoas de que elas têm que usar do que ser naturalmente utilizado porque é necessário e bom. Essa foi a repercussão da minha conversa com a Martha Penna sobre inovação, como chegar nas próximas drogas, nas próximas receitas médicas”, finaliza Schor.