Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental
Pósgraduação UNICINOS.
Speaker 2:Bom eu sou a professora Patrícia e estou aqui novamente pra mais podcast no qual hoje vamos falar sobre impactos ambientais e agrotóxicos na viticultura com a doutora Fernanda Spinelli então hoje eu estou com uma super convidada aqui, que vai falar pouquinho de como funciona especialmente essa análise de resíduos que é feito nos vinhos porque a gente já comentou pouquinho que o agrotóxico que pode ser utilizado aí nas uvas pra depois ser transformado em vinho ele pode estar num certo limite com alguns produtos que são autorizados e pra gente descobrir até pra gente poder dar tipo de certificação que é o PIUP que vocês verão num podcast mais à frente também a gente precisa ter certeza dos resíduos que ainda estão nesses vinhos se existem ali ou não e as suas quantidades e a Fernanda trabalha no laboratório de análises do estado do Rio Grande do Sul e ela tem knowhow bem importante sobre isso e por isso também que ela é a nossa convidada de hoje uma grande especialista em vinhos Fê eu vou deixar de se apresentar rapidinho e aí depois a gente fala sobre essa temática. Olá pessoal obrigada Patrícia
Speaker 3:é prazer estar aqui participando desse podcast bom meu nome é Fernanda Spinelli, eu sou especialista e pesquisadora no laboratório de referência enológica da Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, eu já atuo no setor analítico há vinte anos e então trabalhando bastante nessa área de análises cromatográficas entre elas os resíduos de pesticidas como vem ao tema desse episódio. Eu sou representante brasileira na Oiv como delegada científica na temos produtos que são permitidos o uso deles né nas na nas videiras para evitar algumas doenças específicas mas é claro que
Speaker 1:existem os limites máximos permitidos de acordo com a RDC da Anvisa
Speaker 3:pra que a gente não encontre resíduos desses produtos né no no nas uvas e consequentemente nos derivados da da uva né seja no suco de uva ou propriamente
Speaker 2:nos vinhos. É Fer eu acho que é importante a gente comentar pessoal tem que ter uma consciência de que o agrotóxico utilizado na uva, ele pode chegar até o produto final né isso que é interessante a gente comentar aqui. Porque às vezes a gente acha que está tão distante do processo de vinificação e a gente acaba não comentando pouco sobre isso. Quando a gente fala lá de vinhos naturais no qual vocês já aprenderam bastante sobre, a gente até comenta né do caso dos dos agrotóxicos diminuir pouquinho flora natural da uva ali das leveduras que existem ali então por isso que muitos desses produtores e dos sustentáveis que a gente fala no geral de vinhos acaba utilizando uvas orgânicas uvas biodinâmicas ou nos vinhos naturais também desse tipo de de produção e também esse é dos motivos né pelo por causa das leveduras ali né da sustentabilidade do próprio ambiente da pensando na atmosfera toda dessa vitivinicultura mas pensando que existe e hoje a maior parte da produtividade ao redor do mundo vem da agricultura convencional, o que a gente tem que fazer é pensar numa forma da agricultura convencional mais responsável, porque o uso de agrotóxicos vai impactar em muitas coisas inclusive até nos lençóis freáticos que tem ali né então na água também e e nos vizinhos na comunidade como todo então isso tudo tem que ser pensado a gente tem alguns casos que são pouquinho mais sérios que nos fazem refletir pouquinho sobre isso principalmente ao uso de agrotóxicos que talvez vocês já tenham ouvido falar ou dois quatro d lá na região da campanha gaúcha.
Speaker 2:Esse é agrotóxico utilizado pra soja e que por deriva então quando ocorre vento e a gente não tem uma proteção, entre a essa produtividade ali né de soja e similares com a os vinhedos, acaba que o vento pode levar esses agrotóxicos que não seriam naturais para as videiras e que também elas não suportariam né esse tratamento ali então quando chega acaba mitigando acaba matando essas videiras então isso é problema já existente então de tipo de produto que por deriva pode chegar ali mas além desses produtos por deriva né que a gente já sabe que não podem chegar existem produtos também que não podem ser passados está tanto na agricultura é orgânica que a gente sabe o que pode e o que não pode usar na convencional também tem os produtos que podem ser utilizados ou não então além disso dos produtos na listagem que podem ser usados nas uvas como a Fernanda estava comentando né que há prérequisito pra isso uma listagem de produtos também há limite de cada produto além desse limite que pode ser passado o que acontece quando se passa certo agrotóxico nas videiras seja nas videiras ou qualquer outra planta acontece de forma muito similar, no próprio metabolismo da planta alguns produtos vão levar muito tempo pra serem expelidos, outros em poucos dias a planta nas suas pelo seu processo simples de sobrevivência ela já vai expelir aquele agrotóxico de forma natural pela própria respiração da planta né pelo processo de fotossíntese então muitas plantas já vão eliminar logo alguns produtos e outros podem durar bom tempo por isso que a gente além de tudo tem que respeitar período de carência então quando a gente vai pensar na análise de produto final nesse caso que aqui a gente está falando de vinho a uva deve ter sido tratada somente com os agro Fernando ele né Fernanda ele vai chegar lá no final o resíduo de agrotóxico tu pode nos contar pouquinho de como funciona essa análise?
Speaker 3:Sim, então normalmente a as análises são feitas por amostragem então as amostras são coletadas por fiscais da Secretaria da Agricultura ou mesmo do Ministério da Agricultura e eles encaminham pros laboratórios que são credenciados à rede de laboratórios do Ministério. Essas análises de resíduos de agrotóxicos em vinho elas são feitas em equipamento que se chama cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de
Speaker 1:massas. A gente
Speaker 3:tem a sigla lcmsms a sigla lcmsMS tá? No caso do equipamento que eu utilizo no laboratório anular triplo quadrupulo ele quebra essas moléculas em vários íons em uns pais em uns filhos pra pra que a gente tenha certeza que a gente está pegando o princípio correto né? Então a amostra chegando lá no laboratório a gente faz preparo da amostra que é pra fazer limpeza a gente sabe que o vinho é uma matriz que a gente fala analiticamente uma matriz suja porque ele contém muitos compostos de cor, de deixa resíduos num equipamento, o vinho deixa bastante resíduo, então nós não podemos analisar ele diretamente no equipamento. O que nós fazemos é o método que são kits com sais que a gente faz uma limpeza desse vinho que lá no final desse preparo a gente tem essa amostra incolor tá? E e purificada pra que a gente possa fazer análise no equipamento.
Speaker 3:Esse procedimento de preparo ele demora cerca de meia hora por amostra, podem ser feitas várias amostras ao mesmo tempo né desde que se contenha uma centrífuga, pra centrifugar todas amostras juntas né, são muitas etapas de centrifugação né pra separar sólido líquido, e obtendo esse líquido, color a gente faz a a injeção direta no equipamento apenas com a adição de padrão interno que serve como nossa referência pra verificar se a leitura né do da amostra está ocorrendo de forma adequada. Depois que a gente injeta no equipamento nós temos uma biblioteca de pesticidas desse equipamento que tem todas as razões de massa carga todos os íons que a gente vai ter certeza de que está pegando o íon correto pra aquele determinado pesticida né. E temos também uma curva de calibração que nós fazemos do equipamento pra estimar a quantidade que tem de resíduo. Então normalmente esses resíduos são em concentrações baixas, normalmente em dez na menos dois dez na menos três né? Então a nossa curva de calibração ela tem que contemplar essa concentração baixa pra que a gente consiga afirmar com certeza com exatidão e precisão né do que está assim presente o resíduo e qual a concentração dele né nessa amostra.
Speaker 3:Uma questão Patrícia que tu falaste sobre os períodos de carência que é muito relevante também, Inclusive se a gente pegar uma uva formos analisar direto que não passou por período de carência e uma e uma que se respeitou o período de carência, a a diferença na concentração do pesticida vai ser bastante evidente, por isso é a importância de respeitar de fato esse período né que são que é recomendado na instrução de cada fornecedor do produto. Claro e tem agrônomo sempre que acompanha tudo isso e dá essa recomendação
Speaker 2:faz o prontuário agronômico e aí a partir do prontuário agronômico vai ser feito o tratamento e registrado tudo em caderno de campo. E aí só pra vocês terem uma ideia de como funciona cada princípio ativo nessa tabela na LMR nos limites máximos, vai estar lá o nome do princípio ativo e projona por exemplo, no Brasil qual que é o seu limite então vai ter lá por exemplo miligrama por quilo e aí em muitas das publicações a gente também consegue ter uma referência internacional quanto que ele é o máximo considerado nos Estados Unidos na União Europeia no Canadá na Rússia no Japão na China e falando internacionalmente é legal a gente poder trazer a Fernanda também porque ela é como ela comentou né representante do Brasil ali né junto à Organização Internacional da Vinho e do Vinho, e aí eu gostaria de te perguntar assim se tu tens algum feedback do que tu vive muito na Oiv sobre essas temáticas né sobre o uso de agrotóxicos em vinhos né nas videiras. Tem alguma temática assim que tu enxerga ultimamente como o mais importante o mais relevante ou algum agrotóxico que se está discutindo mais? Nós nós
Speaker 3:não não temos uma discussão de algum agrotóxico em específico atualmente no AEB0 que se discute bastante é as formas de manejo do no Vinhedo pra se evitar uso excessivo ou preço pra minimizar o uso dos dos agrotóxicos né? Então a gente tem resoluções em andamento no na comissão de viticultura, que é a comissão da OEV e na comissão que eu atuo fortemente que é a dinologia nós temos método que é a nossa referência atual né que é o de determinação de resíduos de pesticidas através de questhers E uma novidade interessante que foi uma proposta brasileira né que nós endereçamos esse ano, que a gente está testando no Enem a utilização desse método analítico sem ter que passar por aquele processo de preparo do vinho como eu falei. A gente está otimizando esse preparo do vinho pra que a gente deixe a análise pouco menos custosa e pouco mais rápida, não sem ter que usar esse esse método de quests como eu mencionei. A gente ainda não tem resultados suficientes é pra afirmar que nós vamos poder aplicar, mas a princípio a gente já já endereçou esse PRO EV foi bem recebido na comissão, então a nossa batalha agora é otimizar esse método pra que ele seja mais rápido né, menos oneroso e que a gente consiga então fazer mais análises né de dos produtos sem demandar tanto material de laboratório.
Speaker 3:A gente falando talvez você não consiga imaginar mas imagine que se a gente analisar duzentos resíduos de agrotóxicos, sejam herbicidas fungicidas né, A gente tem que ter padrão analítico pra cada tá? Então padrão analítico vamos dizer mix de cem padrões de vinho, custa cerca de oitenta mil reais, ml desse padrão. E fora todo o material que tem esse é pro preparo dessas amostras né então por isso pra nós é bastante importante que a gente consiga otimizar esse método atual existente. Não falando de EV mas falando de Brasil o que a gente mais tem batalhado é o herbicida dois quatro d Patrícia como tu falaste porque ele tem atacado muitas as videiras né. Mesmo não sendo diretamente aplicado nas videiras em função da migração por outras culturas e é problema constante ano a ano e a gente tem bastante dificuldade de controlar né, essa migração então é o que a gente mais está monitorando e principalmente nas folhas das videiras a gente está monitorando dois quatro d agora.
Speaker 2:É é importante a gente falar desse tipo de problema porque é mais comum do que a gente imagina principalmente na campanha tiveram alguns produtores que em alguns anos perderam quase noventa por cento da produção produtor apenas, então realmente é muito impactante, e não é algo que simplesmente só afeta a saúde das pessoas, mas acaba com a a sustentabilidade econômica daquele produtor também né imaginem ele perder todo esse medo né a produtividade de ano e mais de ano porque quando a gente perde o vinhedo isso é uma consequência pouco mais a longo prazo. E como a Fernanda comentou que é processo muito custoso acabam que a gente não consiga ter tantos vinhos e tantos produtos analisados pra gente realmente conseguir constatar onde que há uso exacerbado ou irresponsável de agrotóxicos, isso complica a vida do consumidor final né então nós como consumidores de vinhos a gente tem que acabar muitas vezes cobrando os produtores sobre essa temática porque a gente não consegue ter uma garantia de forma pública vamos dizer assim né, que alguém consiga, que o Estado consiga fazer muitas e muitas análises pra gente ter pouquinho mais de certeza sobre o que está sendo utilizado e sobre o produto que a gente está consumindo.
Speaker 2:E isso é mais comum pra algumas frutas né frutas legumes verduras isso acaba sendo mais comum mas com o vinho isso acaba sendo como a Fernanda comentou mais custoso e mais difícil de acontecer por isso que programas como o próprio PIUPE que vocês vão Aham. Falei especificamente no
Speaker 1:nosso material mas que a gente vai
Speaker 2:ter podcast exclusivo sobre isso, é Vinhedo pra tornar tudo isso ações em Vinhedo pra tornar tudo isso de uma forma talvez não orgânica mas mais responsável. E junto com tudo isso a gente tem esse impacto na saúde né que a gente tem que levar em conta que pode ser muito importante já que a gente não faz muita ideia do que está acontecendo realmente por enquanto. Então vai ter que prestar pouquinho atenção nisso. O Brasil acaba que ainda não consegue ser muito, tem uma importância mundial quando a gente fala por exemplo de de vinhedos orgânicos e biodinâmicos, mas a gente começa a se ligar nas pesquisas que acontecem internacionalmente, como a Fernanda comentou, muitos dos produtores eles não vão simplesmente pensar na redução de agrotóxicos simplesmente eles vão pensar em formas de deixar por exemplo esses vinhedos mais resistentes pra que eles não precisam usar tantos agrotóxicos. O desenvolvimento de pensar pensar pouquinho melhor sobre como a gente está tratando esse vinhedo então a gente consegue usar alguns genes ali nessas uvas híbridas que tornam essas videiras mais resistentes e a gente não precise usar tantos agrotóxicos então a gente consegue fugir muito ainda da agricultura orgânica biodinâmica, a gente
Speaker 1:tem que levar em conta que a gente também não tem
Speaker 2:terroir muito fácil pra trabalhar né Fernanda?
Speaker 3:Aqui na Exatamente é. A gente tem muita milagre quase. E por isso que
Speaker 2:as uvas americanas se deram tão bem aqui justamente porque elas são mais, né não à toa, a nossa vontade talvez fosse a gente produzir monte aí de uvas vinífera, mas isso acaba sendo pouquinho mais complicado. E aí claro que a gente tem que prestar atenção nesses outros países que estão desenvolvendo as uvas híbridas, que estão trabalhando produção em vinhedos pra gente poder ir fugindo aí dos agrotóxicos né? Exatamente.
Speaker 3:Nós temos aqui no Brasil a Embrapa o Vini que trabalha constantemente na pesquisa de novas variedades resistentes né? Então nós temos instituições de pesquisa que estão sempre nessa luta junto com a gente.
Speaker 2:É realmente a Embrapa faz trabalho muito importante e que muitos produtores não conseguem dar toda a atenção porque a gente pensa muito em uvas que são atrativas pro mercado né? Não à toa que a gente trabalha tanto com Chardonnay e Cabernet Sauvignon porque são uvas que vendem então o produtor ou se ele vai vender a uva ou se ele vai vender esse vinho pronto ele tem que ter produto atrativo pro mercado então
Speaker 1:muitas vezes ele acaba usando uma uva que não
Speaker 2:seria tão fácil assim de é o que ele consegue comercializar melhor e a gente fala muito de sustentabilidade econômica aí e isso é muito importante pra pra esse tipo de sustentabilidade né e social junto também porque se não se sustentar o negócio muitas vezes a própria junto também porque se não se sustentar o negócio muitas vezes a própria agricultura familiar que é o principal no Brasil acaba que não dá conta de manter toda essa esse negócio aí né familiar. Mas a gente claro tem muita pesquisa aí pela frente a Embrapa já colabora muito com isso a Fernanda dentro do Aiv também tem papel muito importante pra nós e dentro do Laren também e a gente com certeza assim agradece muito toda essa tua colaboração de poder falar aqui de dados sobre análise realmente que foi algo que a gente não conseguiu abordar muito até agora então foi muito importante a gente poder aprender contigo hoje muito obrigada. Obrigada vocês foi prazer. Obrigada Fernanda. Obrigada pessoal nos vemos aí nos próximos podcasts de forma complementar desse conteúdo que nós falamos hoje, vocês podem acessar os outros hubs aí principalmente o hub Leitura, onde vocês vão encontrar bastante informação.
Speaker 2:Obrigada e até mais.
Speaker 1:Pósgraduação Unisinos.